terça-feira, 24 de agosto de 2010

Comparações.

O cinzeiro transbordado de cigarro tinha motivos.
O prazer dela era acender o tal e tragar uma vez, duas, depois deixava queimar, era um briga de bituca e cinzas.
Seus amores eram iguais, ela dava um trago ou dois e viravam cinzas.
Podia até ser uma comparação absurda.
Mas era urgente o seu desejo de ver fumaça.
Ora ela fumava um filtro vermelho e se entediava e voltava para o branco.
Tinha dias que acordava com vontade de fumar um maço, noutro deixava queimar por si só, fazia fogueira com os fósforos queimados. E o seu quarto cheirava a cigarro.
A única coisa colorida eram seus olhos verdes e profundos.
Quando ela fumava o cigarro inteiro, o maço inteiro, o dia seguinte era uma merda, mas já era um ciclo vicioso.
Com o amor? O efeito era o mesmo.

domingo, 22 de agosto de 2010

Rodeios


O branco daquelas paredes agoniava até a minha alma, juro que se não fossem estofadas bateria minha cabeça até o rachar do crânio.
Meus braços atados mostravam as impossibilidades do próprio enforcamento.
As lágrimas quase alagaram aquela sala vazia e o barulho do meu inconstante coração me perturbava ainda mais.
Eu não sabia o motivos de estar ali, eu só havia perdido uma parte da minha existência.
O silêncio matou meu cérebro quando perdi as palavras.
Lá não chovia nem fazia sol, quase me fazendo sentir a rotação da terra.
Me arrependo, pois os cortes que havia em meus pulsos poderiam ter sido bem maiores.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Praia.

A água batia nas canelas, estava gelada, os pés sentiam a areia molhada que se infiltravam entre os dedos.
O céu estava nublado, nada de raio de sol, nem do azul que da gosto de olhar.
Não tinha uma alma se quer naquela praia, que hoje não estava tão bonita.
Os cabelos louros voavam com o vento fazendo com que seus dentes batessem uns contras os outros.
Ela fechou os olhos, tentando pela última vez ouvir aquela voz que a matinha viva.
Mas essa voz já não estava presente, não em tom, nem e carne.
Suas lágrimas iam urgentemente de encontro ao mar.
Podia jurar ver um sorriso conforme a água subia no seu corpo.
Olhos fechados que não abririam mais, não por vontade própria.
O mundo girava e para ela não fazia mais diferença.
Ela se transformou em água.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O (não) saber.

A batida do seu coração parecia música. Parecia a melhor música que ouvir em toda a minha existência, ele acelerou quando disse que à amava. Poderia dançar naquele momento.
Eu a beijava com profunda vontade, como se só respirasse direito quando sua boca colava na minha.
Ela sorria entre mordidas nos lábios. E beijava meu pescoço me fazendo respirar fundo e a querer por toda a eternidade.
Minha mão percorria todo o seu corpo, queria gravar cada detalhe da perfeição mesmo na imperfeição.
Seus olhos chegavam na minha alma. O cheiro do seus cabelos coloram na minha narina, e o seu cheiro hospedou-se em meus pulmões.
Ela poderia ser minha além do pra sempre. Mas eu não sei seu nome, nem onde mora, muito menos o telefone para ouvir somente um alô, e ter a certeza de que aquela voz era feita só para mim.
O mundo gira e talvez ela esteja do outro lado.

sábado, 7 de agosto de 2010

28/03/2010

Hoje eu me perdi por aí, meu olhar ficou vago, e a cabeça oca.
O coração batia, mas não pulsava o sangue, gelo.
Eu dizia não é nada. Realmente não é nada, falta ser.
"Eu não estou triste, eu não estou feliz, o problema é que não estou".
Tento estar, mas as vezes escapa, tropeço e fico pra trás olhando o movimento.
Ultimamente tenho escutado pouco, observado mais, quando pisco vejo que estou em transe.
Deixei paixões, em buscas de novas, a fim de fazer diferente, de deixar rolar, ai eu penso.
A cabeça não doi, pelo ao contrario, seria doloroso não pensar.
Ai eu sinto, eu quero olhos profundos que entre dentro dos meus.
Eu quero um sorriso só para mim, que não seja meu, mas me de, o prazer de olhar.
Cheiro, tatos, todos os sentindos, até o sexto por favor.
Vamos deixar o sentimentalismo para depois, eu só quero me perder nos meus pensamentos, achar
a saída e ver que o clima tá bom, o vento tá otimo, algumas rosas amarelas pelo caminho.
Eu quero o desejo matado, bem matado, bom.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Túnel.

A rua era cinza, o céu era cinza, os prédios eram cinzas.
Seu terno era azul, seu chapéu também, e seus sapatos pretos.
A Mulher vestia um vestido branco rodado, era o contraste da rua.
Tudo podia ser cinza, mas eles sorriam, andando de braços dados.
Ele era a pessoa mais feliz do mundo, talvez ela fosse a segunda.
Ele era completo, e invencível.
Ela era sua linda dama.
Ele tinha cabelos pretos em baixo do chapéu.
Ela tinha cabelo louros cacheados ao vento.
Ele era alto.
Ela acabava no seu ombro.
Eram um par.
Ela sofreu um acidente de carro.
Levou toda a felicidade dele com a batida.
Ela não resistiu.
Ele também não.
Ele molhou o quarto de lágrimas.
Ele molhou o quarto de sangue.
Ele decidiu puxar um gatilho.
Ele só acreditava em um amor, e este já não vivia mais,
então não fazia sentido fazer o mesmo.
Hoje, ele mudou.
Ela também.
Não sabem o que são.
E já se partiram de novo.